Ocupação Ailton Krenak no Itaú Cultural é a primeira da série dedicada a um indígena

Redação
18 de set.
2 min de leitura

Primeira exposição da série dedicada a um indígena, a mostra reúne mais de 90 obras e documentos sobre a vida, a arte e a luta política de Ailton Krenak

Desde o início de setembro, o Itaú Cultural recebe a exposição Men am-ním Ailton Krenak, que segue aberta ao público até 23 de novembro de 2025. A mostra marca a primeira vez que a série Ocupação é dedicada a uma personalidade indígena desde sua criação, em 2009.

Em cartaz no piso térreo do instituto, a exposição celebra a trajetória de Ailton Krenak — escritor, poeta, ambientalista, ativista e primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Arte e pensamento indígena

Conhecido por obras como Ideias para adiar o fim do mundo, traduzidas para vários idiomas, Krenak também é poeta, pintor e desenhista. A mostra reúne mais de 90 peças, incluindo:

pinturas feitas com óleo, nanquim e urucum;
cadernos de desenhos e poemas, alguns inspirados em haicais;
traduções de suas obras literárias para francês, japonês, sueco e coreano;
registros históricos, jornais e áudios do Programa de Índio (1985–1991), veiculado na Rádio USP.

O espaço expositivo utiliza o vermelho do urucum, o preto do jenipapo e o verde da natureza como cores principais, reforçando a conexão de Krenak com a ancestralidade e o meio ambiente.

Do Rio Doce à tribuna da Constituinte

Um dos eixos da mostra é o território do povo Krenak, em Minas Gerais, banhado pelo Rio Doce (Watu) — considerado um avô sagrado pela comunidade. A tragédia de Mariana, em 2015, e seus impactos no rio também são lembrados em depoimentos de Krenak e de sua companheira Ní.

O percurso leva ainda à atuação política do pensador, com destaque para o icônico discurso na Assembleia Nacional Constituinte de 1987, quando pintou o rosto com jenipapo em protesto contra retrocessos nos direitos indígenas.

Curadoria e proposta

A curadoria e expografia são do próprio Itaú Cultural, com consultoria de Angela Pappiani e Rita Carelli, além da contribuição criativa de Moara Tupinambá e Ingrid Tupinambá.

Um livreto impresso e digital acompanha a mostra, trazendo um marcador em papel-semente que pode ser plantado, em alusão à ideia de semear conhecimento.